segunda-feira, junho 29, 2009

Repetição
Madoff: 150 anos em poucos meses (e com garantias muito superiores às que apregoam haver por aqui, uma das muitas mentiras em que uns e outros vão convindo e alimenta o parolismo patrioteiro).
Nesta rapidez, toda a diferença entre o 1º mundo e este em que vivemos.
O primeiro-ministro disse no parlamento, no exercício das suas funções, oficialmente, e em resposta a perguntas feitas por deputados no uso das faculdades previstas na constituição e regimento da assembleia da república, que não conhecia o negócio PT.
Se uma mentira é sempre mentira, o certo é que esta não é uma mentirola proferida à saída de uma qualquer inaguração em resposta a um qualquer jornalista: é proferida no coração da democracia e de uma forma solene.
Se não há novidades, e nada acontecer, mentir torna-se um comportamento legítimo em Portugal, sem sanção, e, no mínimo, qualquer português passa a ter direito de chamar ao primeiro-ministro mentiroso - até em requerimentos oficiais.
Espere-se pelo desmentido.

sexta-feira, junho 26, 2009

Para quem viveu a parte agradável de uma sociedade rural, vociferar pela necessidade de modernizar o país seria uma tarefa pouco entusiasmante não fora o atraso geral ter sintomas tão desagradáveis quanto o actual governo ou as proporções que toma um assunto tão comum como o acrescento de uma pista suplementar num aeroporto de Lisboa: isto tudo toma dimensões tão mais desagradáveis quanto é certo ter-se perdido o hábito de estar fora grande parte do ano.

quinta-feira, junho 25, 2009

Ontem, lia eu sobre o problema das diversas grafias do nome da mulher de Shakespeare, quando ouvi uma grita afadistada, canalha. Percebi com espanto e estupefacção que era o primeiro-ministro português que, aos berros, gingão, insultava os deputados e, numa confissão que seria de incúria se não fosse escandalosamente inverosímil, asseverava nada saber sobre um negócio da PT - empresa em que o Estado tem uma golden share... tudo numa abjecção de modos, num desaustino que pensei para comigo ser necessário alguém dizer ao Sousa que há limites. Para a gritaria e para a alarvaria. A sério, muito a sério.

quarta-feira, junho 24, 2009

Cara afogueada, quase descomposta, o grande saco atirado sobre o ombro, olhou-me tão friamente quanto o suor que lhe escorria da testa permitia e disparou:" isto assim não pode continuar". Isto são os kilogramas de cartas dos leitores do Impensável e a reclamação a da carteira, que diariamente sofre com esse despejar na minha morada física dos protestos pela magreza dos posts (esmaecimento que alguns leitores datam do segundo semestre de 2006).
Não me vou defender: é verdade.
Agora, porém, tenho andado ocupado com a oxfordian thesis. Assim que tirar o assunto a limpo, volto às grandes questões nacionais.
SHARING SPOT
A propósito de análises de Sida a fazer em crianças e adolescentes com menos de 14 anos, sem prévia autorização dos país, o que constitui um crime, uma funcionária, perguntada se mesmo assim iria avante, respondia com ar resoluto e de quem não repudia o martírio, que sim. A questão é que a funcionária sabe muito bem que, em Portugal, não corre nenhum risco de ir presa. A mesma impunidade quanto à indemnização civil que, a ser outorgada, nunca lhe saíria do bolso.
Na verdade, aquela funcionária sabe que a sua total impunidade está assegurada.
(Ao invés, umas palavras menos felizes sobre o primeiro-ministro, podiam, até há bem pouco tempo - até à derrota do PS - trazer-lhe alguns dissabores. Mas esta funcionária zelosa que anuncia com confiança que cometeria um crime, nunca diria uma palavra em desabono do Pinto de Sousa. Porque o faria?)

segunda-feira, junho 22, 2009

Lembro-me de um calor muito quieto e calado. Hoje há buzinas, vozearias, um desassossego estéril.

sexta-feira, junho 19, 2009

Entretanto, creio que toda a gente percebeu que o modelo das obras públicas se esgotou irremediavelmente e que o crescimento económico de Portugal vai exigir um sofisticado apego à realidade e engenho (pouco abundante entre nós, ao contrário do que se propala).
A época da política do fontanário acabou e o pobre Sócrates com os seus títulos falsos, a sua formação académica precária, a sua rusticidade de arraial revelou-se, de repente, tão antigo quanto realmente, e a contra-gosto, é. Não sendo ilustrado, o engenheiro ilustra um tempo que acaba. Talvez, com sorte, se transforme em mais uma alegoria sobre as desventuras de nascer no tempo errado.
Um dia - espero que ainda em tempo útil - gostaria de saber porque - para além da preguiça - me deixo ficar por aqui nestes fins-de-semana tórridos.

quinta-feira, junho 18, 2009

«Uma coligação com o país» - Sempre achei que o Sousa não fazia a menor ideia do que fosse uma democracia representativa e creio que tinha razão.

quarta-feira, junho 17, 2009

Dizem-me alguns cínicos que, nas canonizações, os advogados do diabo nem sempre são muito contundentes nas críticas aos santificandos. É facto que me vem à memória sempre que vejo uma das homilias do Sousa. Há pouco fui parar à Sic e ouvia-se, em voz off, as opiniões dos amigos do engenheiro sobre ele mesmo, das quais se retirava que, a morrer hoje, o primeiro-ministro de Portugal talvez não entrassse de imediato, por entre hossanas, no céu. Que talvez tivesse de aguardar por Domingo. Ousadias da imprensa livre, mas que não evitaram que mudasse apressadamente de canal.
Agora voltei e está a dar uma coisa que se chama «Salve-se quem puder». Achei muito a propósito.
Rebeldes da língua
Por Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/06/09
RIO DE JANEIRO - Abgar Renault (1901-1995), um dos nossos mais subestimados poetas modernos - não necessariamente "modernistas"-, nunca aderiu às reformas ortográficas de 1943 e 1971. Até morrer, escreveu belezas como "Quando me sumo na total ausência/ do curso opaco e ascetico do somno/ e não estou em mais nenhum lugar,/ mil invisiveis cousas mysteriosas/ talvez ocorram sobre o chão, pelo ar". E Abgar não era um amador excêntrico. Era filólogo, um profissional da língua. Foi um dos expoentes da gloriosa Universidade do Brasil, chegou a ministro da Educação e defendeu o Brasil na Unesco. Pois nem assim. Seus textos em prosa e poemas aportavam nas editoras cheios de "yy" e "ph" e eram convertidos para a ortografia vigente. Ordens de cima, diziam. Mas sua desobediência civil foi bonita. Movimento parecido, só que em massa, está acontecendo em Portugal, com a recusa dos lusos a aderir ao "acordo" ortográfico recém-decretado e já em uso no Brasil. Os portugueses não querem dispensar o "c" de "insecto", o "p" de "Egipto" ou o "h" de "húmido", além dos tremas e hifens. É como eles veem a língua, e fazem bem em defender seu patrimônio. Aqui no Brasil começam a surgir sintomas dessa desobediência. O escritor Reinaldo Moraes, autor do recém-lançado romance "Pornopopéia", não abriu mão do acento nem no título. E o também recente "Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa", editado por Marcelo Moutinho e Jorge Reis-Sá, com contos, poemas e ensaios de autores de Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Timor Leste, é uma aula prática de unidade na diversidade. Nesse livro, cada autor escreve como se escreve em seu país. Pois, para nenhuma surpresa, aqui e além-mar, entende-se tudo. E por que não? É a mesma língua portuguesa. Nisso está o seu encanto.
Verifico pela leitura dos posts que estou um pouco amargo, mas 4 anos a aturar esta gente tira a boa disposição a qualquer.
É que, deixem-me dizê-lo, muito sinceramente que considero o governo desta tropa fandanga o responsável por um dos mais nefastos períodos da história recente de Portugal: uma governação de rufias, plebeia, que fez imperar a falta de escrúpulos e guindou a má fé a virtude.
Nunca pensei que pudéssemos ser acometidos por um tão grande aglomerado de defeitos e vícios e espero que não se repita tão cedo.

segunda-feira, junho 15, 2009

Constâncio, além de se permitir um tom de regateira para com um deputado, alguém que deriva a sua legitimidade directamente do voto popular, insiste para que lhe não perguntem por pormenores. Também a mim me parece que alguém com um ordenado milionário não se deve preocupar com insignificâncias.
Com que se preocupará o funcionário Constâncio?
Pedro Magalhães propõe uma auditoria às sondagens.
Sobre sondagens já tomei a decisão de não comprar jornais em dia que as divulguem e fugir de canais em alturas que as transmitam.
Não seria desinteressante um boicote a quem encomenda sondagens a gente que, no mínimo, é incompetente.
Les letttres persannes
A multidão que hoje chama ditador a Ahmadinejad é a mesma que celebrou a sua eleição. Muitas mulheres que hoje protestam, começaram a usar, de livre vontade, o chadar ou o niqab ainda no tempo do Xá, e ulularam furiosa e devotamente por Khomeini.
Foram atendidos, eles e elas. Porque protestam agora?
Sim, é verdasde, este Eu não dizia? tem um gosto especial.

sexta-feira, junho 12, 2009

Há dois anos vivi um Verão de quase alucinação neste hotel, por conta da insónia: adormecia tarde e às 8 da manhã estava acordado. Atribui tudo às agruras da meia-idade. Talvez, mas as cortinas tinham uma quota parte importante no estado vigil que então não percebi e hoje me pareceu evidente. Clarividências da senectude.

Comprei ontem o livro da Leonor Botelho, por ter ouvido dizer bem e gostar de memórias. Nascido quase dois decénios depois, ainda pude assistir ao ritual do "fecho da casa" com a vinda do Verão e que nas "Casas faladas" é tão bem lembrado. A existência de várias casas, numa altura em que se não " ia a" (excepto Lisboa, mas não me lembro de, em pequeno, ir e voltar no mesmo dia), as viagens eram "para" fez-me pensar que a diminuição dos rendimentos e a carestia extinguiram - como na história a invenção da agricultura - os prazeres dessas errâncias.

quarta-feira, junho 10, 2009

10 de Junho

Dia de Camões

em que

a Igreja celebra

o Santo Anjo da Guarda de Portugal

Lembrei-me de uma vez que o blog teve mais de 90 visitas. No dia seguinte, antes de postar, ajeitei o nó da gravata: half-Windsor e duplo susto. Mas a multidão desapareceu para sempre e o Impensável é hoje um blog lounge, informal, smart casual nos seus melhores dias. Porque é que me lembrei disto? Enquanto lia Putnam («Renovar a Filosofia», pg. 105) matutei sobre a hipótese esbandajora de me dotar com um fato de Verão igual ao de Ernest (atentar nos 0:32 segundos e reaparição aos 0:42s), branco e preto, em vez do de cor de palha pálida, em linho, com que tinha resolvido proteger a minha pobre natureza da inclemência do estio e de temíveis «apareça logo à tarde» o que tudo, espantosamente, se adequa à questão do problema de saber como há quem aceite a verdade em enunciados contrafactuais enquanto mantém a noção de que a verdade não contrafactual é problemática - o que, embaraçosamente, me sucede de vez em quando chega o Verão.

terça-feira, junho 09, 2009

O Impensável parece uma sede concelhia do PSD (imagem arbitrária: nunca entrei em nenhuma).
Esclarecendo-me, dir-me-ei que não sou do PSD, que nunca votei no PSD, salvo no passado Domingo e que no fim do segundo governo do Prof. Cavaco Silva estava quase - bem, não estava, mas quase - tão farto do governo como estou deste, menos a parte do asco visceral e aflição que agora tenho por isto e que no tempo do Prof. Cavaco Silva não passava de algum tédio e apreensão moderados.

segunda-feira, junho 08, 2009

É espantosa a capacidade de produção de questões apatetadas. Agora é a da ingovernabilidade.
Se com maiorias absolutas caem governos (o do Dr. Santana Lopes) e empobrecemos (o do Sr. Sousa) e fomos ultrapassados por diversos outros países europeus (Chipre, por exemplo), as maiorias absolutas não são condição nem necessária nem suficiente de governabilidade material. A questão verdadeira é outra.
E é essa que temos de discutir.
O autor deste post felicíssimo está na outra margem, mas é comum o rio que nos separa.
A ler, que contém enumeração preciosa e exaustiva de todos os coniventes com a recente desgraça que nos assolou.

Se o Impensável fosse a Life, com Life cover e tudo,
Manuela Ferreira Leite
seria a Live cover do Impensável.

domingo, junho 07, 2009

A GENTALHA PERDEU!

E a política dos golpes baixos, a exaltação do reles, da desonestidade e da má fé.

sábado, junho 06, 2009



Há 65 anos estes soldados desembarcaram na Normandia, na França que capitulara vergonhosa - e apressadamente.
Há 65 anos, Isabel II, então Princesa-Herdeira, filha do Comandante-em-Chefe destes soldados que se vêem no filme imediatamente antes do desembarque - e da morte, para milhares deles - encontrava-se ao serviço do exército britânico e é hoje a única chefe de estado em funções que serviu na 2ª Guerra Mundial.
Apesar disso, o presidente francês não convidou a Rainha Isabel II, hoje a Comandante-em-Chefe dos Exércitos da Grã-Bretanha e do Canadá, para assistir às comemorações do 65º aniversário do desembarque.
Primeiro concordei com quem se indignou. Agora, penso que assim é tudo mais congruente e a ausência da Soberana a lembra-nos que vivemos num estranho e perigoso mundo.

quinta-feira, junho 04, 2009

Mais curiosidades de tradução:
No telejornal da RTP1 o Holly Coran que Obama claramente disse transforma-se em Corão, tout court.
No caso, pode pôr-se a hipótese de um intuito pio: o de evitar que S. Obama perdesse fiéis.
Antes de me deitar deparei com a notícia das primeiras sondagens que dão a vitória ao PSD - como vagamente prevera - e já tristemente descrera.
Vou votar em branco - a questão das unanimidades parlamentares no «acordo» ortográfico - mas é uma boa notícia. Espero que o PSD ganhe; melhor, que Manuela Ferreira Leite ganhe. É civilizada (o Eça queria meter umas cunhas ao bisavô dela e esses apontamentos de currículo sempre me deram uma agradável sensação de tranquilidade), além de civilizada, corajosa, persistente e sem problemas em dizer as coisas desagradáveis que, aliás, só nos faz bem ouvir (o que arde cura).
Mesmo que os resultados desta sondagem se não concretizem ela é um sinal de melhoras, o primeiro anúncio de uma convalescença.
Estava a perder a esperança!
Orgulho e Preconceito na TVI.

Nas legendas, £ são traduzidas por $US. Three hundred pounds transformam-se em «trezentos dólares», assim mesmo.
Atendendo aos tempos, ocorre-me que alguém possa achar subtil, engenhoso ou hábil.

quarta-feira, junho 03, 2009

Conceição Pequito, depois de fazer um quadro sombrio da democracia portuguesa e do cul-de-sac a que nos está a conduzir o estado do nosso sistema político, que considera bloqueado, declara opor-se frontalmente às candidaturas de independentes à Assembleia da República: «Isso era um risco muito grande de populismo».
Parece-me que risco maior é o do paternalismo. Foi ele que gizou o actual sistema, a que subjaz um juízo de incapacidade sobre a possibilidade dos portugueses viveram em democracias sem baias - e que a autora, com a melhor das intenções, reactualiza.