Esta noite fechava, noutros tempos, o primeiro ciclo das férias grandes - que começava com o fim das aulas, em 11 de Junho. Amanhã (logo) era a ida para a praia, a volta à casa de férias. Tinha um sótão grande, objecto de expedições para aventureiros corajosos, um pára-raios (o cabo, vindo do telhado, passava perto das escadas e as empregadas fingiam medos de fulminações) e a casa de banho cá de baixo, grande e inóspita, que albergava um sistema de aquecimento de águas muito estranho, entre o primitivo e o arrebicado - neogótico niquelado? - fulgente e temperamental, em perpétua ameaça de explosão. Na sala, numa estante, muito Júlio Verne vindo de outras gerações, uma espreguiçadeira confortável, sempre a jeito, e - seria lá? - um pick-up não menos singular, no cimo de uma telefonia perfeitamente cúbica.. Em baixo, depois da escada, na porta alta e estreita, de dois batentes, começava, muito saltitado, o caminho para a praia.
Um dia, porém, colidida por uma galáxia brilhante com um buraco negro no centro, como se diz a nossa galáxia ter, a casa e as suas excêntricidades amavéis tornou-se uma coisa longínqua, a vogar no horizonte dos acontecimentos - e, com ela, as minhas coisas de praia (o balde, o ancinho, um moinho, um avião de lançar ao ar) e os verões absolutamente perfeitos.
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