As bombas de fragmentação estão a caminho de serem ilegalizadas em Dublin. Não sei se o banimento abrange todas as minas terrestres, mas espero que sim.
As ideias humanitárias que estão por detrás dessas proibições são, na sua essência, conservadoras e antigas: privilegiam a reciprocidade - de que a igualdade jacobina e de esquerda é uma pobre, aborrecida e perversa parente - e fazem-no em detrimento da eficácia; lutam contra a igualdade massificada no infortúnio e preocupam-se com a actualidade da resposta, evitando que uma arma colocada anos antes mate ou fira outrém sob o manto da fatalidade.
A reciprocidade na guerra é aceitação do perigo mútuo: ninguém pode provocar um mal a outrém sem ficar exposto ao contragolpe. (É a lealdade - na guerra e em tudo). Por isso a possibilidade de um único artefacto, manobrado por muito poucos ou um só homem poder causar a morte a muitos, tal o caso da metralhadora, provocou o imediato repúdio de Luís XVI; um sentimento conservador que a esquerda no poder não podia sentir quando adoptou, sem hesitações e em nome do progresso, a guilhotina, a grande igualizadora, não já usada em guerra, mas contra a própria população civil pelo estado iluminista.
Além da preocupação com a reciprocidade, que as minas ofendem, vem de longe o cuidado com o tempo: rancores ou ódios eram sentimentos em que não se gastava por demais o engenho e os arrependimentos e perdões - alguns com o seu quê de caprichoso - muito usados na edificação do tédio, originavam um apurado sentido da actualidade da resposta. Alguns provérbios e quase esquecidas regras de educação são sobrevivências dessa compreensão do repentino e do fugaz em quietos tempos.
O importante é que com velhas coisas esquecidas, vamos fazendo o inventário à herança do pobre século XX.
Sem comentários:
Enviar um comentário