domingo, junho 08, 2008

Uma coisa intrigante para Domingo à tarde: há dias entrei na casa de banho, para os preparos de início de dia, e vi um telemóvel em cima do lavatório - que refulgia com a manhã e o Glassex. O telemóvel que encontro, também, de vez em quando, por tudo quanto é sítio. O telemóvel da empregada que, descobri, nunca está a mais de 5 ou 6 metros dele e o transporta pela casa fora. A minha empregada, uma pessoa pacata, com uma vida quase monótona, que vive num «lugar» próximo - menos que uma aldeia - foi tomada pelo sentido da urgência. Depois de estar arranjado, ainda rescendente do grande splash de colónia depois do banho, fui-lhe entregar o telemóvel: «estava na casa de banho», disse com um ar afável onde tremeluzia uma pequenina resignação (de onde, em vão, como se verá já a seguir, esperei que ela retirasse a noção de que o tele não precisava de ser tão móvel). Ela agradeceu e desculpou-se. Disse-lhe que no dia em que lhe telefonasse e não atendesse, mandaria rezar-lhe missa por alma. Riu e posou o telemóvel bem em cima da papeleira. Ia aspirar a sala pequena, deduzi - bem. Não me atrevi a perguntar-lhe de onde vinha aquele afã pelo telefone, mas tenho para mim que aquela alma boa pessoa e diligente encontrou o seu pequeno vício, um vício pacato, discreto, inócuo, barato - 10 euros por mês - mas tão tenebroso e degradante quanto os demais.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não patrãozinho, o meu vício é andar a limpar a porcaria da sua casa, na verdade sou uma herdeira com vastos rendimentos que encontrou na limpeza uma método de terapia redentor.
Entre um jantar em Montecarlo ou uma aspiradela na sua sala pequena rendo-me à sua sala pequena.
Freud explica.
Já agora no meu BI vem exactamente isso: Empregada da Silva Santos.
Nome estranho este que os meus pais me deram mas enfim os aristocratas sempre foram excêntricos. Já agora agradecia que não me classificasse sem conhecimento de causa, eu não tenho alma e muito menos boa e gentil. Sabe lá o patrãozinho o que eu faço nos tempos livres longe do Glassex e do pano do pó.

impensado disse...

Maria,
A sua filha já me tinha dito que recorre, por vezes, a paraísos artificiais - e não artificiais (sim, o estranho caso da evaporação das williamines que estavam na caixa do gelo)- para vencer o tédio. Não a pensava, porém, tão amarga e desagradável. Fiquei muito desiludido e é com tristeza que sou obrigado a dizer-lhe que não venha já a partir de amanhã.
P.S. Foi a Maria quem me convenceu a usar Glassex. Cá em casa - como sabe - sempre se usou CIF e vou voltar a usar.