segunda-feira, novembro 12, 2007

Viver longe, ter saudades, eis um modo agradável de ser português.
Aqui, a coisa é desagradável.
Mas, enquanto cá estamos, aproveite-se.

De nos verem os outros mais lá de fora nascem situações interessantes e, se é certo que 20 anos de CEE e de UE não mudaram, no essencial, uma sociedade arcaica, rígida, autoritária, burocrática, que cultua os formalismos, o adjectivo em detretimento do substancial, começa-se a sentir, vinda de fora, alguma exasperação pela mesmice. Isto a propósito do puxão de orelhas dado pelo Santo Padre Bento XVI à Igreja portuguesa que padece de muito dos vícios que abundam no resto do país. Francamente, não vejo que o ralhete seja pelas causas apontadas por JPP (basta a formação do actual Papa para fazer do que JPP diz uma verdade, mas não suficiente, por si, para justificar a dimensão e a publicidade da coisa). Também o que se alega aqui, embora mais perto do que penso ter constituído por si a admoestação não justificaria, creio, o inédito gesto, apesar do escândalo de conformismo que presidiu à posição da Igreja no caso do referendo do aborto,
Uma e outra coisa são sintomas do que, a um atento observador não passará despercebido: a pecha, típica dos totalitarismo burocráticos (tão totalitários que neles cabem as boas intenções e propósitos firmes de reforma) de erigir realidades à parte do mundo. É assim o Estado português, é assim a Igreja Católica portuguesa e Bento XVI não está disposto a tolerar essa mansa esquizofrenia (tão mais indesculpável quanto é certo a Igreja conhecer o país melhor do que ninguém). Esperemos que de tudo isto contribua para uma Igreja melhor e, através dela, de um país mais dissonante. Por enquanto, os sinais são maus: o que li parece desvalorizar as advertências solenes do Papa. Esperemos que seja do choque e que a criatividade burocrática de que é exemplo a surpreendentemente muito clerical e autoritária carta do Cardeal-Patriarca Lisboa aos presbíteros do patriarcado de Lisboa e que tem o efeito - na prática - de derrogar o motu proprium «Summorum Pontificum Cura» do Santo Padre sobre a missa em latim seja substituída pelo esforço de evangelizar.

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