O que Marcelo Rebelo de Sousa disse há pouco sobre o acordo ortográfico (concorda por motivos políticos, que vêm a ser a preponderância do Brasil... ele a quem ouvi, e muito bem, discretear sobre a inutilidade do acordo) inscreve-o bem dentro da produção nacional de políticos: pode não ser tão monotonamente bróculos quanto Pinto de Sousa é, mas não deixa de ser um produto normalizado, uma daquelas falsas trufas das lojas gourmet dos centros comerciais de arrebalde.
Ao contrário de Marcelo, creio que, daqui a uns anos, se o Brasil conseguir deixar de ser o gigantesco pântano cultural que hoje é, serão os brasileiros a pedirem conta aos analfabetos (literalmente falando) que os governam pelo que fizeram à sua língua. Quando os intelectuais, os cientistas brasileiros do futuro escreverem as suas comunicações científicas em inglês (ou em castelhano) serão obrigados a usarem duplas consoantes, aquilo que pensam ser meros vestígios do passado ou mesmo arcaísmos (poucos deles sabem que as suas atualíssimas palavras resultaram de uma ideia servilmente copiada de França - que, claro, não a aplicou... - e inventadas na Lisboa de 1911).
Creio que, nessa altura, tal como muitos de nós aqui, se revoltarão contra o atrevimento e a arrogância provincianas que desfiguraram a sua e nossa língua.
Creio que, nessa altura, tal como muitos de nós aqui, se revoltarão contra o atrevimento e a arrogância provincianas que desfiguraram a sua e nossa língua.
Sem comentários:
Enviar um comentário