quarta-feira, março 26, 2008

Há um continuum Sebastian-Julia, tem razão, são a seu modo two of a kind mas Sebastian demora mais e mais beblosamente - foi erro mas fica assim - a perceber o que Julia percebe, de imediato, com Rex: que perder é apenas um começo - entre outras coisas, do conhecimento da Graça Divina. Talvez os modos diferentes de ver, Sebastian, mais lento, Julia mais implacável salvem a narrativa do arbítrio de que me queixava. Eu vi tudo mais pelo lado da captação do regular guy por um mundo belo, periclitante e milagroso. Ambos tentam Charles, sim, um daqueles casos em que Adão e Eva tentam a serpente, mas Charles é por demasiado classe média, demasiado sensato para sucumbir à velha técnica do esteticismo. Reserva-se, poupa-se, apenas é tocado ao de leve e, golpe sujo, no passado.

Gosto muito do pai de Charles na adaptação para televisão (o Gielgud fazia fabulosos cabotinos) e gostei muito de Lord Marchmain e da sua amante Cora, a veneziana (Veneza podia cobrar uma taxa de alegoria e metáfora aos criadores do norte da Europa) que sabe, sensatamente, quando se deve chamar um padre para administrar a Extrema-Unção.

2 comentários:

O Réprobo disse...

Deixem cá meter-me na conversa, mas tratando-se de Dois Amigos...
O continuum de que fala o Impensado é caucionado pelo próprio Marquês de Marchmain, quando se mete com ele por não parar de se apaxonar pelos filhos. Mas enquanto que Sebastian tem um papel central, não restringido ao meio social, mas também na perspectiva de proporcionar a Charles uma família (mesmo fragmentada) que não tivera, Julia pouco conta.
Apesar de antipática, pela opção em que o narrador nos faz acompanhá-lo, a Marquesa, interpretada por Claire Bloom, é a personagem feminina mais marcante, a ameaça triunfante no jogo pelos filhos, a que só a morte permite escapar, a não ser em Ryder, que o consegue, em parte, pelas limitações próprias que VV. sublinharam.
Expliquei um pouquinho do que penso em:
parafrasefacil.blogspot.com/2007/09/atraces-da-desagregao.html
Beijinho à Bomba, abraço ao Anfitrião

impensado disse...

A Marquesa faz o que as matriarcas fazem, tenta manter a família; inteligente, sabe que alguns sacrifícios são necessários. Católica e leitora de Chesterton - salvo erro - sabe que não são, afinal, sacrifícios, mas a aceitação da vontade de Deus, algo que hoje nos parece estranho e o era já para Ryder.