«Portugueses estão entre os europeus que mais desconfiam do próximo, revela inquérito »
também no Público
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E com razão, já que a reserva mental é a atitude nacional de um povo pobre e, geralmente, pouco seguro de si. Nasceu como forma de resistência contra o poder que lhe queria cobrar o imposto e não lhe respeitava as ideias, foi impregnando o nosso modo de ser e persiste hoje, resto putrefacto das antigas cautelas campónias.
Há dias, um português com uns copos falava com um castelhano borracho. As frases do português continham uma facada por palavra, rasteira, invejosa, golpe baixo a que não faltava um humor afadistado - ao qual, valha-me a santa indulgência, não deixo de achar alguma graça .
O espanhol, não vendo motivos para estar a ser insultado, respondia com naturalidade e franqueza às canalhices afadistadas, não percebia os subentendidos, que estava a ser desfeiteado, e o outro tirava daquela franqueza desarmada um prazer suplementar. Português e castelhano, os dois com trajes regionais de montar - a conversa decorria entre bestas - pareceu-me o retrato dos nossos países, do nosso bisonho, retorcido e invejoso modo de ser, agora ainda mais aguçado pelos falhanços recentes.
Terei percebido tudo mal? Eu estava um pouco afastado, comia castanhas e as castanhas sempre me causaram alegorias, mas creio que sim, que a imagem não é arbitrária.
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