A vida dos meus dias acusa-me de culpar a escola e pergunta-me pelos pais. E os pais, claro que sim. Mas que pais? A maioria é analfabeta funcional. Lê mal e, mesmo que os mova a melhor das boas vontades, a leitura, mesmo de uma lengalenga arrisca-se a fazer perigar a saúde das criancinhas. Histórias à noite, só orais e populares, o que, sendo óptimo, não será suficiente.
Dos menos iletrados, muitos não sabem dizer poesia, e a lengalenga ou história serão, na maior parte das vezes, politicamente correctas, isto é, no extremo do calisto, arriscando-se assim a destruir qualquer vocação leitora.
Os pais que lêem não precisam de incentivar as criancinhas: estas descobrem, bem cedo, que os pais se divertem a ler. E têm, geralmente, garantida a sua história à noite, uma boa e terrífica e arrasadora história para crianças, que lembrarão para sempre. O perigo, para estas criancinhas é que não encontrem na escola uma continuação de casa, ou que a escola não colmate as lacunas da casa, lacunas motivadas, por vezes, por opções estéticas dos pais (para exemplificar, cá por casa não há um só livro de muito autor consagrado das letras pátrias porque eu não gosto.)
Por isso, a escola, também. E para ensinar a ler melhor, mais atentamente. Os pais, mesmo muitos pais que lêem são “common readers”. É preciso que aos 16, 17, anos os adolescentes adquiram (comecem a) apetrechos de leitura mais sofisticados (o que duvido muito é que os actuais professores de português os tenham. Os que conheço parecem-me muito iletrados e com péssimo gosto literário – não falo já, sequer, das calinadas gramaticais).
Mas, e por isso, dou-lhe razão, nada melhor para criar um leitor do que pais que leiam.
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