A Castafiore, en grande diva, nunca se lembrava bem (a precisão é inimiga da grandeza) do nome do Capitão Haddock e isso irritava-o; e conseguia encontrar sempre pretextos para lhe cantar a ária das joias, uma tortura para o lobo do mar. Sempre pensei que tal ária fosse tão pouco real quanto o Rossignol Milanais e quando um dia contava aos crescidos das torturas do pobre Capitão e ouvi um «sim, a ária das jóias, do Fausto do Gounod» tive uma surpresa que hoje penso ser comparável à de Eça quando descobriu que o mel existia realmente, que não era uma pegajosa alegoria dos clássicos.
Tudo isto parece hoje bem pequenino, mas, naqueles tempos, não havia as facilidades que há hoje, não havia o disco cá em casa - nem na terra - e passei anos sem ouvir a air des bijoux. Um dia, ouvia a 2 e, de repente, percebi que estava a ouvir a célebre ária. Ouvi e senti-me um traidor ao Capitão - de quem sou um indefectível - por gostar de uma coisa que tanto o mortificava.
Interpretação campal.
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