domingo, julho 11, 2004

Na pilha de livros para arrumar, as "Cenas da Vida portuguesa" de Maria Filomena Mónica. Ao pegar no livro, lembro-me de uma afirmação sobre a política salazarista. Vou à procura e encontro-a sem dificuldades, logo no capítulo I, os "Trinta anos que mudaram Portugal". Transcrevo: "Durante as primeiras décadas do seu consulado, Salazar fechou o País ao exterior, tentando moldá-lo de acordo com os seus ideais. A intervenção do Estado na sociedade aumentou de tal forma que alguns estudiosos do período têm dificuldades em aceitar o regime como pertencendo à família capitalista(itálico impensável)."
Conviria não esquecer este forte intervencionismo estatal. Entre este, patriarcal e paternalista, e o preconizado pelos socialismos (que tem como corolário a demonização do "liberalismo", tido como "selvagem" - seria interessante dissecar o uso deste termo), o istmo de liberdade é, ainda hoje, uma estreita língua de terra pouco firme e ameaçada: é que desde Salazar até hoje há fios condutores que permaneceram. Um deles, é um profunda desconfiança pelo povo, que não é, nunca, de fiar. Veja-se, v.g., a lei dos partidos políticos e a tão ilustrativa história do instituto do referendo: dir-se-ia que a emergência política da classe média, operada com o 25 de Abril, apenas democratizou, em Portugal, o profundo cepticismo do ditador.
Talvez, agora, com a "Europa", a influência de modelos de comportamento estrangeiros, veículada pelos "mass media" uma segunda geração comece a sentir curiosidade por algo que em Portugal nunca existiu: um estado pequeno, esquecido das suas glórias imperiais, "moderno" e funcional, sem preocupações escatológicas.
Desde que essa geração prescinda, é claro, de querer que ele, o estado, empregue aquele primo que, coitado, é bom rapaz e precisa mais do que os outros de um emprego, ou que renuncie ao subsídio estatal para pôr em práica aquela ideia que se, tão útil e que, já sabe, neste país, ninguém apoia.

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