sábado, fevereiro 11, 2012

Público - O futuro dura muito tempo

Vasco Pulido Valente tem geralmente razão porque lê a realidade, enquanto a generalidade dos políticos e «fazedores de opinião» gosta de a recitar.

«[...] Os deputados da Assembleia da República espumavam de fúria e o Governo resolveu exibir a sua dignidade num comunicado seco e sentido. Toda essa gente se acha com certeza acima da crítica daqueles que lhe vão dando o pão de cada dia. Mas não lhe ocorre que não mereça o respeito de ninguém. Cá dentro, houve um pacto para não se falar do passado, ou seja, para nunca se apurarem as culpas do sarilho onde nos meteram. E o patriotismo serve para ir calando parcialmente o que se diz lá fora. Os príncipes e o pessoal menor da República andam por aí de "consciência tranquila" , como eles nos costumam garantir, a tratar com serenidade e deleite da sua preciosa vidinha.

Mesmo em portugueses, esta extraordinária ilusão não deixa de surpreender. O Estado falhou no essencial e foram eles que falharam. Não foi a Europa ou a América ou o "capitalismo selvagem" que falharam. Foram eles. Levar um povo inerme à falência e, a seguir, à miséria equivale, por exemplo, a perder uma guerra. São coisas que não se desculpam. A relativa resignação com que os portugueses se têm portado talvez leve a maioria do nosso funcionalismo político ao erro de supor que adquiriu uma espécie de imunidade perpétua e que nem agora, nem depois lhe pedirão contas. Mas, como já se vai vendo, a vontade de as pedir aumenta dia a dia e acabará inevitavelmente por se tornar geral.»

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