quarta-feira, junho 23, 2004

Vantagens da incultura, poder partilhar do optimismo de Vargas Llosa ao invés de soçobrar perante o pessimismo de Steiner expresso na entrevista que o Almocreve transcreve e provocou as reflexões tristes de um marinheiro no exílio. E, julgo eu, injustificadas, tais como as de Steiner, onde descubro mais depressa o francês desgostoso com o colapso do poderoso "star system" da indústria cultural gaulesa do que o cosmopolita (é interessante, aliás, que a propósito do orçamento da Universidade de Harvard, de que há pouco tempo li ser superior ao do conjunto das universidades francesas Steiner - erroneamente, ao que tudo leva a supor - refira o "conjunto das universidades europeias"...)
Eu não sei o que se publica em Vilnius ou em Nápoles mas não tenho motivo para pensar que seja menos bom do que soía e o que Steiner informa sobre Cambridge é deveras animador para qualquer continente de tamanho médio.
Que um francês se sinta triste não me parece totalmente descabido. Que um marxista ou filo-marxista ou adepto dos micro-filo-marxismos-post-qualquer-coisa franceses se sinta triste, idem (afinal, como diz Steiner: "Después de todo, ¡qué hermoso sueño representaba el marxismo!" E prossegue:"Cuando hoy me dicen que ese sueño conducía necesariamente al gulag, respondo que semejante interpretación es demasiado simple, vulgar..." - Pois sim, digo eu, viva a vulgaridade!).
Desatulhe-se a Europa da decadência da França e do marxismo e do "néantismo" franceses e (eu, pelo menos, aqui desta província, assim o sinto) o panorama não é desanimador: uma Europa livre de tiranias e de ditaduras, onde, pela primeira vez em muitos anos, se vive em liberdade. Decadência?

(Ora então em Cambridge estuda-se a teoria do todo... Não sabia... Mesmo sem cafés? Onde é que aquela gente pensa?)

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