quarta-feira, abril 29, 2009

A relação Portugal-Brasil é assimétrica. Em muitas questões, mas refiro-me à da memória do passado colonial: Portugal já não lembra o Brasil enquanto colónia. Depois do 1822, aqui houve as guerras liberais e, depois delas os esforços voltaram-se para a construção de um império africano. Ao contrário, o Brasil não teve outro colonizador. A memória de Portugal - e do poder colonial português - permanece, por vezes distorcida até à total irracionalidade, o que tudo é parte do esforço com que o Brasil se dedica à morte do pai. A questão do «acordo» ortográfico é um episódio nesse difícil processo do Brasil crescer. Outra, menor, mas não menos elucidativa, a tentativa de apropriamento do Cavalo Lusitano, que ficaria sob o controlo do Brasil....
Alguém tem de explicar ao Brasil que esses tiques de filho único não são admissíveis. E explicar aos portugueses que falta de firmeza em relação ao Brasil é tão uma má política quanto má educação: os adolescentes, e o Brasil é-o até nos extremos nacionalistas que aqui e no resto da Europa ou Estados Unidos seriam considerados manifestações intoleráveis de chauvinismo e xenofobia, os adolescentes dizia, principalmente aqueles com mau aproveitamente escolar, toda a gente sabe, gostam de ouvir um não e nada os desilude mais do que um pai complacente.
Portugal parece esquecer-se destas verdades simples.

terça-feira, abril 28, 2009

Pequena nota sobre assuntos domésticos e observações curiosas: o tempo quente em Março e, pior, a arrumação e limpeza de artefactos de Inverno, decisão que patetamente acato, têm-me feito passar algum frio. Bem sei que há a crise e as calamidades - só no México houve gripe e terramoto - mas é irritante acordar quase a tiritar.

segunda-feira, abril 27, 2009

De ouvir dizer: Rui Rio. E para quê? Que diferença faz? Para me fazer compreender: Margaret Tatcher fez toda a diferença na forma e na substância: opôs-se com firmeza ao poder dos sindicatos, não cedeu a chantagens, modificou a economia, modificou um país, mudou a cultura política da Grã-Bretanha. Ora, e Rio é isto que quer fazer? E sabe fazê-lo? Se não - e creio que não deu provas de especiais capacidades - para quê os murmúrios e os punhais? Mais um entremez de aldeia? Cansaço.

domingo, abril 26, 2009

São Nuno Álvares Pereira, São Nuno de Santa Maria, vencedor de Atoleiros, rogai por Portugal e por nós, portugueses!

sábado, abril 25, 2009

À espera d'O crepúsculo dos deuses, transmitido na Antena 2 do Metropolian (e sinto-me anos atrás, quase a fazer arcádia sem fios), leio, ao acaso, cartas de Proust.
Esta, dirigida a uma senhora que julgando-se retratada em Odette, lhe escrevera foribonde, termina deste modo: «et en disant adieu à la cruelle epistolière qui ne m'écrit que pour me faire peine, je mets mes respects et mon tendre souvenir aux pieds de celle qui m'a jadis mieux jugé» O alfange da lisonja - a capacidade de julgar de outrora, um suborno: o souvenir tendre, a deslocação da cruauté para a autora epistolar, para um estado de alma passageiro.
O Doutor Vasco Pulido Valente chama a atenção para o que, respeitando velhos e claros princípios de decência, um primeiro-ministro está impedido de fazer.
A verdade é que tudo isso em Portugal deixou de ser comum, óbvio.
Vivemos no Portugal em camisa, possidónio, ainda voraz, mas sem o garbo e a postura que a rapina concedia.

quinta-feira, abril 23, 2009

Contas ao café:

Endividamento externo é insustentável sem crescimento nominal de 6 por cento, diz Vítor Bento
23.04.2009
A economia já entrou numa situação de insustentabilidade do seu endividamento externo, que apenas será possível contrariar com crescimentos nominais da economia entre seis e nove por cento, calcula o economista Vítor Bento.Na apresentação do seu livro "Perceber a Crise para Encontrar o Caminho", o presidente da Sibs alertou que "o caso argentino prova que é possível que um país definhe por um período muito longo de tempo" e assinalou que o crescimento potencial português passou na última década de três para um por cento.Isto torna ainda mais grave a situação de endividamento externo do país, já que, de acordo com os cálculos deste economista, apenas com um crescimento nominal entre seis e nove por cento será possível evitar um caminho de insustentabilidade das contas externas nacionais.Vítor Bento assumiu o papel de pessimista e lembrou o contributo dado ao longo dos últimos anos pelo "optimismo dominante" na actual situação do país.
Instinto arrumador despertado por uma rima de livros num local recôndito.
Queda de alguns, apesar de esforços.
Um, cai e abre-se; primeira frase à mostra: "no seio do paradigma".
Fecho.
No mais, Musa, no mais (...)

quarta-feira, abril 22, 2009

segunda-feira, abril 20, 2009

Asseguro que a última coisa de que me lembro antes de chegar aqui foi estar a ler, muito sossegado, Tradition and the Individual Talent do Eliot.

domingo, abril 19, 2009

Acontece-me isto: às vezes entro , através de outros blogs, gosto, gosto bastante, surpreendo-me desde logo com a bandeira azul e branca e indigno-me por nunca ter ouvido falar! Quero pôr nos meus links e só nessa altura verifico que já consta da minha lista! Tudo isto, por várias vezes, género maldição - ou começo de coisas desagradáveis de memória. Tenho explicações para o facto (uma delas, o nome, que tomaria por um site de tradução on line...), mas acho que terei de mudar o nome para "aquele bom que nunca sabia" em vez de manter o nome actual.
Hoje fui lá parar outra vez, mas reconheci a tempo. E fazia anos. Muitos Parabéns, Tradução Simultânea
Susan Boyle (não é preciso dizer quem é) assemelha-se a uma hipótese (como se chamam em direito os problemas práticos que servem para aplicar a matéria teórica dada) sobre uma infinidade de problemas e mitos da natureza humana. Podia-se fazer um concurso para tentar recenseá-los a todos. Desde logo, o tema geral da metamorfose e suas subespécies, do diamante oculto, à transfiguração, da alquimia do que somos, da redenção da humilhação ou mero tédio quotidianos.
Aquela mulher desconcertante, força da natureza com o seu quê de cruzamento entre o bon sauvage e a excentricidade britânica, é para milhões uma prova viva de que a felicidade é possível, para qualquer um, a qualquer momento. Com aquelas cordas vocais, se não a felicidade, o o justo reconhecimento e o sucesso.

sexta-feira, abril 17, 2009


Il pleut
Pergunta de Sexta à tarde: Será que vai ser processado?
Morreu o Druot. Quando soube, mais do que a leitura do Les Rois Maudits ( nos Livres de Poche) lembrei-me da tarde de Setembro de há muitos anos, em que em que uma amiga, impressionada pelas honras, benesses e proventos dos marechais de França, leu aos presentes, num francês impecável - quase inverosímil no jardim da velha quinta beirã - o rol dessas opulências: «Montmorency, le connétable... »

Nesse Setembro - nessa mesma tarde dos anos 80 - por meu lado, lia Chamfort, que me deprimiu inacreditavelmente. Nunca o acidulado me assentara até aí mal e só me achei em igual estado de exaustão moral quando, há pouco tempo, tentei reproduzir uma vinnaigrette óptima para pôr - sobre um estrado fino de manteiga sem sal - nas sandwichs de pepino e de que perdi, creio que irremediavelmente, a receita.

Era isto a propósito de Druot que morreu, dos Rois Maudits e de leituras de noviço.

quarta-feira, abril 15, 2009

Não sei onde, ouvi sobre os 10% de analfabetismo nacional. Isso e a imensa zona de penumbra que os rodeia explicam porque se discute e não discute, se faz e não faz em Portugal o que lá fora, há muito é tido como assente ser ou não objecto de discussão ou prática aceitável. Da tentativa boçal de domínio do estado pelo Partido Socialista às saloias campanhas da namorada e às ofensas do ministro, tudo isto é impossível no primeiro mundo. A dificuldade em perceber a causalidade ou a infantilidade em refutá-la, este reinado da inconsequência, é em si, o retrato do nosso subdesenvolvimento.
Não consigo achar graça, é cansativo e triste.
Um motivo escondido é um bom motivo escondido quando é totalmente ridículo e fútil (os grandes motivos escondidos clássicos, ciúmes, ódios, ambição, prefiro lê-los a encontrá-los no dia-a-dia). Estes motivos ridículos disparatados e infantis de que falo atingem a perfeição quando se disfarçam sob razões em si mesmas boas, sensatas e úteis, de tal modo que apenas a alguma veemência com que são declamados os seus rationales nos alerta para a sua benigna bastardia.

segunda-feira, abril 13, 2009

O Abril em Portugal, a campanha turística, provocava grandes indignações cá em casa, lembradas as ventanias e o agreste da época: a campanha, que se manteve por anos, era considerava como uma graça de mau gosto.
Hoje não esteve muito vento, mas choveu. A chuva era necessária e eu gosto destes dias cinzentos e este Abril não me parece menos agradável do que aquele que há anos se ficcionava para atrair turistas.

domingo, abril 12, 2009


Páscoa

Dommingo de Páscoa
Mc 16
1 Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomécompraram aromas para ungir Jesus.2 E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, mal o solhavia despontado.3 E diziam entre si: Quem nos há de remover a pedra da entrada dosepulcro?4 Levantando os olhos, elas viram removida a pedra, que era muitogrande.5 Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem,vestido de roupas brancas, e assustaram-se.6 Ele lhes falou: Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foicrucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui.

Sábado Santo
"Durante o Sábado santo a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando a Sua Paixão e Sua Morte, a Sua descida à mansão dos mortos e esperando na oração e no jejum a sua Ressurreição (Circ 73).
Sexta-Feira Santa
No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um horto e, no horto, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Como para os judeus era o dia da Preparação da Páscoa e o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus.



quarta-feira, abril 08, 2009

terça-feira, abril 07, 2009

Zweit sobre Rilke (in «Le monde d'hier», tradução impensável):
«Esta prática do silêncio a par do recolhimento do seu ser exerciam uma influência irresistível sobre todos os que dele se aproximavam. Assim como era impossivel conceber um Rilke violento, era inimaginável que quem quer que fosse não reprimisse, em sua presença, toda a ostentação e não perdesse toda a presunção. Sob o efeito da espécie de vibração que emanava da sua calma, a sua contenção comunicava-se em seu redor como uma força misteriosamente activa, uma força educadora, uma força moral. Depois de uma qualquer conversa mais demorada com ele ficava-se por horas ou mesmo dias inteiros incapaz de qualquer vulgaridade.»

domingo, abril 05, 2009

APRIL is the cruellest month, breeding

Lilacs out of the dead land, mixing

Memory and desire, stirring

Dull roots with spring rain.

Winter kept us warm, covering

Earth in forgetful snow, feeding

A little life with dried tubers.

Summer surprised us coming over the Starnbergersee

With a shower of rain; we stopped in the colonnade,

And went on in sunlight, into the Hofgarten,

And drank coffee, and talked for an hour...
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T. S. Eliot, The Waste Land

sábado, abril 04, 2009

Entretanto, prossegue a demolição de Lisboa - e do país em geral.
Actos deste jaez são pura e simplesmente inimagináveis de Badajoz a Cracóvia.
Este - pura selvajaria, puro vandalismo - é uma prova cabal do grande atraso do país - que os patrioteirismos que nasceram depois do 25 de Abril escamoteiam com cuidado. Mas o atraso existe e é ele que explica o resto: a vergonha que estamos a viver, do Freeport às tolices e toleimas do acordo ortográfico, que tudo tem em comum serem frutos e sintomas da falência da 3ª república, uma república de arrebalde).
Viram isto?
Mesmo que a mesura à Rainha de Inglaterra tenha saído de menos por puro medo que saísse de mais, a do Rei Abdullah é de criado de mesa (de outros tempos, de outros tempos)!
Ninguém lhe explicou que não se dobram as costas quando se cumprimenta?

sexta-feira, abril 03, 2009

quinta-feira, abril 02, 2009

As acções voam. Reina um entusiasmo quase idêntico ao de quando desciam, talvez menos feroz: a felicidade é menos contagiosa do que o pânico, que se propaga aereamente.
Artigo notável de Helena de Matos no Público: «Nunca se deve dar poder a um tipo porreiro», embora não ache que o primeiro-ministro o seja. Mas foram tipos porreiros que lhe abriram o caminho. Sampaio por exemplo. Sampaio era um tipo porreiro a quem demos poder. Ou Guterres que, por incapacidades várias desperdiçou oportunidades de ouro para mudamros um pouco. Esse também era um tipo porreiro. E Barroso. Barroso era porreiro, também.

quarta-feira, abril 01, 2009

Meus Caros,

As mentiras do 1º de Abril têm limites!

E depois a frase «Foge, Fatinha foge» é tão inverosímil! Seguida de um "olha que te querem perder" e é Camilo.