terça-feira, maio 31, 2005

"A primrose by a river's brim
A yellow primrose was to him,
And it was nothing more,"

Wordsworth, "Peter Bell" 1798

segunda-feira, maio 30, 2005

E foi o não. Pena que parte dele o seja em nome de um modelo social e económico caduco. No entanto, a parcela que foi protesto contra a arrogância, a falta de respeito pelo querer dos eleitores chega para me dar uma agradável boa disposição nesta Segunda-Feira enublada.

sábado, maio 28, 2005

Vou ler, com alguma volúpia, o artigo de Cadilhe sobre a função pública e a paternidade cavaquiana do seu triste estado. As evidências mais comezinhas, tomam, em Portugal, o aspecto de revelações assombrosas. Qual era a dúvida? Afinal, Cavaco não é social-democrata (e populista)? E não foi, toda a sua vida, funcionário público?
"L'Europe retient son souffle" escrevia um jornal francês. Nota-se que houve aqui um esforço de contenção para não escrever, o Mundo, a Galáxia, o Universo.

Entretanto, Gerhard Schroeder e Zapatero, dois grandes estadistas, apelam ao "oui" que esse outro gigante da história europeia, Chirac, parece não conseguir assegurar. Segundo eles, o "oui" propiciaria a felicidade da cornucópia da abundância, aquela mesma que era suposto ter derrramado sobre os europeus post-Maastrichtianos todas as benesses. Por enquanto, lembrava alguém, há o desemprego e modelos caducos na França e na Alemanha.

sexta-feira, maio 27, 2005

Com as subidas de ivas e outros impostos e apesar de todo o falatório sobre o assunto, o déficit baixará umas ridículas poucas décimas: Much ado about nothing.
A seguir com algum interesse o ar profundo e de caso sério afivelado pelo primeiro-ministro. A mim, que serei sempre um desejeitado aprendiz nestas andanças das coisas graves da pátria, parece-me uma reedição do Conselheiro Pacheco e preparo-me para me divertir um pouco (inconsciências...).

quinta-feira, maio 26, 2005

Não acredito, tenho de confessar, que da discussão saia sempre a "luz". A "luz" pode surgir da calma e do sereno assentimento (e de ambas as situações pode surgir de igual modo o negrume, mas adiante). Tenho de convir, porém, que se a serenidade tem em mim um admirador, não deixo de, cândida ingénua e romanticamente, considerar a discórdia, a confusão e mesmo a algazarra como alfobres previlegiados de ideias, de "vida", de "inovação". Fraquezas...
Por isso, ficarei deliciado com a vitória do não em França, se tal ocorrer, e anseio pela bagarre que se seguirá. E perante a pobreza da vida nacional (e da minha vida mental) sempre é um assunto que nos ajudará a combater o tédio do Verão.

terça-feira, maio 24, 2005

Caloraça, o governo-sonso-é-para-nosso-bem-etc, pó, secura, 33% de humidade, 21% de IVA, algum desalento. Penso, com alguma firmeza (a que possa restar dos dias frescos), em exilar-me lá para Vigo.
Post Eu-bem-dizia:
Vd. o que se escreveu aqui a 17 de Março:
"Ontem, uns senhores muito irritados a propósito das declarações do Doutor Victor Constâncio (...). Não percebo a irritação: ele é socialista e socialista é a maioria tão abundantemente eleita. E os socialistas sobem impostos. Esperavam outra coisa?"

segunda-feira, maio 23, 2005

Não sei a que propósito, lembrei-me de Tolentino. Fica o soneto célebre (ainda é?).

O colchão dentro do toucado
Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena,
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali, ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz co'a doce voz que o ar serena:
"Sumiu-lhe o colchão, é forte pena;
Olhe não lhe fique a casa arruinada."

"Tu respondes-me assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?" E dizendo isto,

Arremete-lhe à cara e ao penteado;
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.

domingo, maio 22, 2005

P.S. O tom inflamado também se aplica às coisas internacionais: as "considerações" de Mário Soares sobre o "não" ao tratado europeu soam a retórica de botica de província. Não se preocupem, repito, tudo está como sempre. Mas o Soares ainda o percebo: o Nobel da Paz - que, suspeito, ele almejava acima de tudo, nunca veio e, arredado dos areópagos internacionais de primeira plana (decorreu por estes dias uma reunião de laureados com o Nobel para reflectirem sobre o estado do mundo...) dá-lhe para estes arroubos de notabilidade de terra pequena.
Este país parece ansiar pela calma salazarista polvilhada de betão e eventos (expos, euros, etc) ... e não suportar outra coisa: pelos jornais, pelos blogs, por "aí", um clima de alarme, de iminência de catástrofe que não percebo senão pelo desespero da normalidade, que é, onde há vida, por vezes, um pouco tumultuosa. Mas é assim mesmo: há cem anos estávamos pior (já aqui o disse... e nunca estivemos muito melhor, afinal...), tenham calma, leiam, passeiem, tomem uns chás de tília, mas acalmem-se, é mesmo assim, não há muito a temer. E tentem falar - e escrever - mais baixo. Entretenham-se sem incomodar os outros.
Creio que os posts de ontem são um pouco repetitivos. As situações persistem, a gente repete-se. Triste fado.

sábado, maio 21, 2005

A Divina Guarda parece disposta a contribuir para a resolução do problema português distribuindo alguns milhões dos lotos europeus por cidadãos nacionais. Na eventualidade de estar a ser lido por um dos felizes contemplados, o conselho é: tudo lá fora, já - dentro da maior legalidade, claro. Mande vir na proporção do que precisar, nem um tostão a mais.
Esta gente não é de fiar, cuidado com a carteira.
O actual governo vai dificultar, como se esperava, a normalização do que resta do mercado do arrendamento. Qualquer funcionário do ministério pensa que sabe como é que os proprietários de imóveis devem gerir os seus interesses... Se alguém possuir apenas alguns milhões em imóveis é tratado pelo governo como um adolescente desagradavelmente expectante e palermamente exigente, a ser despachado com rudeza por um qualquer. É preciso ser milionário, - mas em cash ou em bens "lá fora" - para pôr os ministros e demais gentalha em guarda, para poder pegar no telefone e ordenar: "tenho muito gosto em tê-lo a almoçar comigo hoje. Apareça no hotel" Lembram-se?

sexta-feira, maio 20, 2005

Ouvi o Isaltino dizer aquilo do outro, do Mendes, e o tom, de uma genuína, antiga e, infelizmente já rara, má-criação portuguesa, de despique de merceeiros em chinelos de ourelo fez-me rir com gosto, como há muito tempo não ria.
Portugal moderno? O Portugal moderno do português de sucesso é isto, do mesmo modo que há perto de 200 anos a modernidade de então assentava mais sobre o Silva Carvalho, o homem imprescindível dado a arranjos de dinheiros, ou sobre a incompetência de Freire, ou no optimismo ingénuo de Silveira que no cosmopolitismo e educação mais vagamante europeia de parte da aristocracia liberal, preterida por D. Pedro IV nos negócios da governação.
Ainda, por razões várias, sofremos dessa fractura, entre a gente que sabe como é, ou o sabe apenas daquele modo, ou seja, que causava engulhos a um gentleman (o cunhado de Eça, o Conde de Resende, era inaproveitável para Governador civil por uma questão de mera decência) e a gente mais civilizada que olha, como se olhasse de fora, num olhar de estrangeirada tristeza, a miséria nacional, o reino ignóbil do necessário.
A questão reside, parece-me, na questão mesma do carácter do necessário, mas a questão, por espinhosa, tem sido evitada, com algum egoísmo, diga-se, pelos indígenas mais europeizados.

quinta-feira, maio 19, 2005

Quanto à "constituição" europeia, o autor deste blog diz não: pelo método seguido na sua elaboração e pelo seu conteúdo, um cruzamento de estado providência francês, com os tiques autoritários da mesma origem. Confessa-se, porém, que a leitura do documento foi apressada, a condizer com a sua feitura, aliás... e incompleta, mas nada do que tem ouvido e lido o fez mudar de opinião ou sequer levá-lo a pensar em tal.
Consulte-se o site fundado por JPP.

terça-feira, maio 17, 2005

O Almocreve das Petas faz hoje dois anos.
Os parabéns merecidos por tão provecta idade.
Está frio para o tempo, é verdade.
Eu não deixo de estimar e ainda há bocadinho estive com o aquecimento ligado enquanto lia "A guerra de sucessão" do Napier.
Dito isto com este ar de confidência indiferente que era o usado nas cartas de família para os despropósitos do tempo (mas não faltavam verdadeiros entusiastas da metereologia) retorno à leitura, depois de dar uma volta higiénica pelos blogs.

segunda-feira, maio 16, 2005

Dos jornais, e ainda em noite de Domingo, assuntos de 2ª Feira:

"O Avante!, órgão central do PCP, «reabilitou» nas duas últimas semanas o dirigente comunista mais polémico de sempre. Após um longo período de silêncio, Estaline voltou a estar em foco no semanário comunista a propósito do 60.º aniversário do fim da II Guerra Mundial na Europa"

Apetece dizer "Deixai os mortos enterrar os seus mortos..." mesmo que tal actividade tome foros de um delírio insano. Mas enquanto estes se ocupam de tais assuntos, a facção menos ingénua, trata de reescrever a história como se pode ver aqui.

Por este andar, qualquer dia veremos como o heróico povo francês, liderado pelo diligente funcionário de Vichy, Mitterrand, libertou Londres do domínio nazi.

sábado, maio 14, 2005

Leio a "Guerra da Sucessão - D. Pedro e D. Miguel" de Napier. Alguns relatos de trapalhices e teimosias e eis-nos a pensar que "tal qual como hoje".

sexta-feira, maio 13, 2005

Esta coisa que surgiu agora, isto dos sobreiros, vê-se logo que não há corrupção nenhuma. Voyons... mil casas em Benavente e ainda dois hotéis ? Esta Brandoa bucólica de classe média não precisa de se impor pela corrupção: é uma ideia de mau gosto, impõe-se por si às imaginações betuminosas de autarcas e directores de serviços que, todos a acham boa, moderna, europeia e acham soberbo ir para lá, "pra Benavente, pró golf".
Os Espirito Santos não precisaram de gastar um tostão.
Com estes pedaços já escassos de frio de Maio faço casulos para sonos espessos de inverno e, apressado, adormeço; o livro que leio tomba com o estrondo de ainda uma vez falhar equilibrá-lo sobre os outros, na mesinha-de-cabeceira. Sorrio benévolo da aselhice destes gestos de mundo acordado e durmo sem escrúpulos a noite apócrifa.

quarta-feira, maio 11, 2005

Por acasos vários tenho lido sobre o dia-a-dia na Grã-Bretanha durante a guerra. Aquela gente comemora com orgulho, em memórias e testemunhos, os tempos terríveis. Lembram a união do povo perante o perigo, as acções corajosas, os actos heróicos e, duas linhas abaixo, os pequenos egoísmos, as más vontades - para receber as crianças evacuadas de áreas expostas a bombardeamentos, por exemplo, ou para colaborar em actividades essenciais -, aquilo a que um francês chamaria a "miséria humana" e que eles relatam como vulgares peripécias com que aligeiram os seus textos. Quanto a lamentos não existem, todo o entusiasmo narrativo é posto no contar como se resolveram os problemas ou como conviveram com eles. O tom é de algum desapego, contido, mas é daí que nasce um incrível - por sólido e tocante - sentimentalismo, sem a deliquescência continental.
Gente assim é difícil de vencer.

Aaron Bohrod "The Sweet Life"

Esta tela era para "ilustrar" um tédio lisboeta de Cesário... Intento falhado, mas fica o quadro.

terça-feira, maio 10, 2005

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança inda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
E se torna, não tornam as idades.
Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.
Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase é outra cousa, porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.
Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo irado,
Que do contentamento são espias.

Luís de Camões

segunda-feira, maio 09, 2005

"People hardly ever make use of the freedom they have, for example, freedom of thought; instead they demand freedom of speech as a compensation."

Kierkegaard

domingo, maio 08, 2005

O Mar Salgado faz dois anos blogosféricos, isto é, um ror de tempo.
Os muito parabéns do Impensavel.
Hoje, nos noticiários da uma da tarde das estações de televisão internacionais, o assunto era as celebrações do Dia da Vitória, da vitória dos aliados sobre os nazis, do fim da 2ª Guerra Mundial
Em Portugal, os telejornais tiveram como notícia de abertura questões de futebol, asssunto que ocupou os primeiros seis ou sete minutos do noticiário.
Não me espantei: está a condizer com o resto.

sexta-feira, maio 06, 2005

O Abrupto... Tenho de confessar que, por vezes, je le trouve presque agaçant. Mas leio-o, não para saber de recados políticos subliminares - que nem entenderei - mas as outras coisas, os vulcões, a astronomia, os livros descobertos, as coisas simples que ele lá põe de manhã. E leio com gosto isso porque percebe a gente que ele gosta daquilo, das lavas, das órbitas distantes, dos livros descobertos em alfarrabistas com um entusiasmo infantil que o embaraça (e ele sabe disso e joga com isso inteligentemente, mesmo quando se perde, por vezes, em narcismos menos infantis, tentando com que tudo reverta a favor de uma casualidade bem intencionada). Ah, lê-se bem.
Bom aniversário!
Novenas de Maio

"[...]
A tia Delfina, velhinha tão pura,
Dormia a meu lado
E sempre rezava por minha ventura. . .
E sou desgraçado!
Águas do rio! Águas dos montes!
Cantigas d'água pelos montes,
Que sois como amas a cantar.. .
E eu ia às novenas, em tardes de Maio,
Pedir ao Senhor:
E, ouvindo êsses cantos, tremia em desmaio,
Mudava de côr!
Passam na rua os estudantes
A vadrulhar...
E a Mãe-Madrinha, do tempo da guerra
A mailos Franceses,
Quando ia ao confesso, à ermida da serra,
Levava-me, às vêzes.
Assim como êles era eu dantes!
Meus camaradas! estudantes!
Deixai o Poeta trabalhar.
Santinho como ia, santinho voltava:
Pecados? Nem um!
E a instância do padre dizia (e chorava):
"Não tenho nenhum.
[...]"
"António"
António Nobre

quinta-feira, maio 05, 2005

Soube agora, pelo Rua da Judiaria que hoje se comemora o Dia de Lembrança dos Mártires e Heróis do Holocausto, do Holocausto que ocorreu na Europa.

A todos os Mártires e Heróis a minha homenagem.

A Aristides de Sousa Mendes, herói português nesses tempos terríveis, uma particular e respeitosa homenagem.
A verdade é esta: apesar do meu pessimismo congénito, que as minhas lucubrações de anos apenas agravaram, resolvi fazer obras em casa. Para quê sujeitar-me a essa devastação ruinosa? Creio que pelo dever, o dever de preservar e transmitir o que recebi e que acabou por sair vencedor da minha crença sobre a inutilidade daninha da generalidade dos actos humanos. Mas vem isto à colação para dizer que acordei hoje, ainda não eram sete da manhã com o barulho do reboco a ser picado. Levantei-me e, em roupão, fui espreitar. E, minhas senhoras e meus senhores, que magnífica manhã, suave, amiga, perfumada! Voltei reconciliado com o não sei quê de bonomia que conservo, apesar de tudo, uma crença difusa e ingénua na bondade que pode existir nalguns momentos raros.
Mudei de quarto, para outro mais longe do barulho reconfortante da reparação e continuei o sono, um sono denso e feliz que há tempos não sentia.
Agora estou aqui, na tarde tão agradável de Maio, a ganhar coragem para ir lá fora dizer ao Sr. Paulo que barulho àquela hora, nunca mais.

quarta-feira, maio 04, 2005

Chirac disse ontem na televisão que a constituição europeia era essencialmente de inspiração francesa.
Já se sabia, mas ouvir, preto no branco, tal coisa por estes dias em que se comemora o sexagéssimo aniversário do fim da Segunga Guerra Mundial, onde a França foi desastrosamente e vergonhosamente derrotada, sem luta nem glória, leva a que se pense bem na bondade destas coisas "essencialmente francesas" para o futuro da Europa.

domingo, maio 01, 2005

O Senhor Presidente da República parece querer "tratar do assunto" do cidadão português detido por fumar hashish num país muçulmano. Não sei o que move o Senhor presidente. Motivos humanitários? O Islão é tolerante e sábio e não acredito que por aquelas paragens, a não ser por motivos políticos, alguém esteja preso quatro anos sem julgamento, como a lei portuguesa limpidamente permite - e acontece aqui - sem que se sintam as expeditas lágrimas do Dr. Sampaio.
Perante situações mais caseiras, parece desfalecer a boa vontade presidencial. O Sr. Presidente faz-me lembrar a criada do narrador do RTP* que compadecida ao ler a descrição do sofrimento provocado por uma doença, não o reconhecia quando sofrido por quem lhe estava próximo e padecia dos mesmos males que - descritos em letra de forma - despertavam ainda há pouco a sua comiseração.

E com isto, eis-nos em Maio.

*RTL é abreviatura do En Recherche du temps perdu